Epopeias de uma nação mentalmente marasmada produzidas sem a censura do horário nobre imposta pela sociedade.

domingo, 30 de setembro de 2012

Pelo conveniente da discrição


Pelo conveniente da discrição
Nasce do ardente fogo o preconceito
E se perto se esconde o que há no peito
Lua e carne apenas vislumbrarão

E o fogo, com raiz no coração,
Com seu vigor queima qualquer preceito
Certezas impostas ainda em leito
Que fadam ao gelo quente paixão

E sucumbir na ardente e forte chama
Tal medo irá, se não alimentado
Sobrevive o que importa e quem se ama

E sucumbirá também, fracassado
O fracasso que em silêncio se trama
Pois não fere coração que é amado.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Pois depois de sangrar o coração


Pois depois de sangrar o coração
e até do sumiço da vida alheia
ressurge ela, tempestade de areia
Como pedra lançada dum tufão

Por mais que eu insistisse em dizer não
E agora, amarrado em ti pela teia
Sigo contigo e perco o que há na veia
Mas aprendi os bens da situação

Hoje exijo só o que me é de direito
Criei vida e somente ela me importa
E por me sangrar, sangra tu e teu peito

Te extraído o bem, eu fechei-te a porta
E em terra de ninguém está teu leito
Onde vives, sem saber que estás morta!

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Ode ao Sistema


Depois dessa cagada em Belo Monte
Desviam toda a atenção do meu povo
Que se deixa manipular de novo
E não se dá conta de tal afronte

Manipulados, apraz que lhes conte
Apenas o que não lhes causa estorvo
Deixando a verdade em estado turvo
Pois povo burro não planta a Semente

Assim não nasce o pensamento crítico
Daqueles que têm o real poder
Porque são felizes num mundo mítico

Induzidos a querer sem querer
Acham um saco esse mundo político
E vivem na miséria, sem viver.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Monólogo sobre a Morte

Caminhando pelas bordas da vida, equilibrando entre razão e emoção, sigo eu, levando pedradas de quem me odeia. Aprendendo a esquivar das pedras, continuo caminhando. Acertar-me é sorte e revidar é mesquinho. Apenas me esquivo. Ignorá-los é uma virtude. Eu não tenho obrigação de demonstrar-lhes se me afetam ou não, mesmo que me acertem. Ignoro-os como devem ser ignorados. Eles, preocupados em me ferir, acabam caindo no abismo que lhes aguarda, mas não rio deles... apenas me serão menos a planejar a minha desgraça... menos pedras atiradas. Continuo caminhando, subindo e ignorando o que não me faz bem. Ser assim é melhor do que ficar parado revidando as pedradas. Não quero cair no mesmo abismo que os meus inimigos.
Não faltarão obstáculos pelo caminho que sigo. Devo preocupar-me com eles, não com o que os já presentes podem me causar. Estes já sei como superar, os que virão ainda nem sei como são. Esses, sim, me preocupam...
Fui instruído a aprender a superar o que vier. Seja fácil ou difícil, devo superar. Seja bom ou ruim, devo passar. Se aprender, não voltarão mais e se não aprender, terei novas chances pela frente. Seja quando for, não devo ter pressa. Se não há pressa para a morte, por que haveria para a vida e suas naturais situações?
A morte é a vida em mutação, por isso é inevitável. É a vida quem dá as cartas. É ela quem me torna o que sou... mas a minha vida sou eu quem faz... então sou eu quem dá as cartas à minha vida... mas se eu der as cartas erradas, a cada uma delas, a morte se aproxima mais... até que ela chega... uma vez que ela se aproxima, não há como afastá-la, não há jeito de mandá-la embora.
A morte é um bem que todos temos direito. Um bem sim, pois se não for vista como tal, tornar-se-á um medo e viveremos toda a vida preocupados com ela, como se fosse um ato de impaciência do Criador e isso não é uma verdade.
A morte é transformação, não um fim. Ela nos faz mais sublimes, não nos tira nada além do peso material, nos dá a consciência de toda uma vida, nos faz enxergar tudo o que fizemos de errado, nos traz o arrependimento pelos males que causamos e isso não é ruim... não pode ser ruim... depende de cada ponto de vista.
Tudo o que está errado pode ser consertado. Seja hoje, seja amanhã, seja daqui a séculos... um dia será consertado, mas poderão haver outros erros, que precisarão ser consertados também... isso faz com que o Tudo esteja sempre em transformação... uma espécie de transição contínua, que o torna sempre indefinido, mas modelado da melhor forma para a situação mais conveniente. Isso é vida, é mudança para melhor, é mutação.
Com as cartas certas, a vida sempre fará tudo no tempo certo, inclusive trazer a morte, que, como já disse, não é um mal, é uma necessidade. Se fôssemos imortais, nos tornaríamos suicidas, pois somos muito fracos para suportar as pedradas por muito tempo. Suicídio é uma evocação da morte por nós mesmos... algo que não temos direito.
Viver esperando pela morte é uma completa perda de tempo. Ela virá, mas quando tiver que vir. Não é justo passar toda uma vida à sua espera. Não é justo passar toda a vida esperando por algo certo de vir, pois se já é algo certo, que o foco seja então a vida.
A vida sim é incerta, possui altos e baixos, bens e males, dádivas e estorvos. Cabe a cada um escolher o que quer. Essas são as cartas que tenho nas mãos. Saiba escolher quais dispôr à vida.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Enquanto caminho em corda bamba


Enquanto caminho em corda bamba
A minha vida o vento quem leva
E se faz sol, frio, chuva ou se neva,
Roupas balançam, como quem samba

E mesmo que me chamem de camba
Eu nunca me levo pela raiva
Sei que se cair, caio na relva
Relva que reflete a luz do âmbar

Onde o meu varal se localiza
É donde eu vislumbro a paisagem
É onde me bate a melhor brisa

Leva rumo à mais bela viagem
Mesmo que o caminho seja cinza
Sigo no balanço e com coragem





sexta-feira, 7 de setembro de 2012

A Prosa em Versos


É Sabido que sei que não versejo
Não sei fazer rima como naquilo
não sei como me prender num estilo
E sei só que na prosa me desejo

Eu vivo nas garras da liberdade
Sem regras, sem o ritmo da rima
Aproveito tudo sim: cada linha
Sim, encavalgo todas, cada frase

Eu faço prosa, prosa sai escrito
Sem limite, proseio no papiro
Mas limito agora o meu infinito

E se aqui travo, por ali reviro
Se ali bloqueio, por aqui me sito
A prosa em verso acho, enfim respiro.