Epopeias de uma nação mentalmente marasmada produzidas sem a censura do horário nobre imposta pela sociedade.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

FELIZ ANIVERSÁRIO


 - Parabéns!!! Feliz Aniversário!!! Muita felicidade pra você!
 Foi assim que minha família me acordou no dia do meu aniversário.
 - Hoje é o seu dia! Comemore!
 Este é o conselho que todos me deram.
 Pensei muito em aproveitar meu dia: Sair com a namorada, passear com a família... Qualquer coisa que fizesse minha rotina ser quebrada.
 Mas de repente, veio a lembrança que hoje é sexta-feira! Dia de trabalho! Levanto-me correndo, vou tomar meu banho, corro pro quarto, me arrumo às pressas, tomo meu café da manhã, saio correndo pra pegar o ônibus.
 Mas espere aí! Eu deveria estar dentro daquele ônibus que está saindo do ponto! Corro desesperadamente para alcançá-lo... Em vão.
 Como não há mais nada a fazer, fico sentado no ponto pensando no que meu patrão falará quando eu chegar.
 Finalmente! Chegou outro ônibus! Olho o relógio: 7:55h. As possibilidades de chegar na hora são remotíssimas! Mais fácil passar um elefante voando! Tudo bem. Antes tarde do que nunca!
 Chego ao trabalho: 8:10h. Meu patrão olha para mim, olha para o relógio...
 - Bom dia.
 - Bom dia? Não seria melhor você desejar boa tarde?
 - Desculpe, perdi o ônibus. 
 - Perdeu? Por acaso você chegou a encontrá-lo?
 - Quando eu estava chegando no ponto, ele arrancou. Não pude fazer nada!
 - Pôde sim! Pôde ter acordado mais cedo!
 - Desculpe...
 - Você tem esse monte de processos para acompanhar, precisa emitir os relatórios das empresas que te pedi. 
 - Vou fazer... pode deixar...

 Sigo em direção à minha mesa. Mal consigo encontrar a cadeira! Saio para resolver os processos. Demoro horas, e quando volto... 
 - Onde você estava? Onde foi? 
 - Estava resolvendo os casos dos processos. 
 - Mas precisava demorar tanto? 
 - Havia muitas filas. 
 - Você demora demais! Precisa ser mais ágil. Quero que vá ao banco. 
 - Mas os relatórios...? 
 - Depois você faz, vá ao banco, pague essas contas e faça esse depósito.

 Quando chego ao banco, uma fila quilométrica me faz pensar no que o maldito dirá quando eu voltar.
 Após uma hora na fila...
 - Seus pagamentos. 
 - O que é isso?!!! Você demorou muito! Acho que fica passeando na rua em vez de trabalhar. 
 - Não fico, não... 
 - Chegaram mais processos. Vá à prefeitura e apresente estes pagamentos para liberarem as certidões. 
 

 Sigo para executar o serviço. Tudo vai bem. Até eu voltar ao escritório.
 - Entregou? As certidões saem amanhã? 
 - Entreguei, sim, mas as certidões demoram 3 dias, você sabe disso. 
 - Mas eu preciso delas para amanhã! Volte lá e diga isso ao fiscal. 
 - Eles não adiantam assim. 
 - Mas eu preciso... Tenta lá.

 Volto à prefeitura, sem sucesso, invento algo no caminho...
 - Ele disse que vai tentar, mas não garantiu. 
 - Já é alguma coisa. Amanhã você volta lá. Emitiu os relatórios? 
 - Não, não tive tempo. Não parei na minha mesa. 
 - Então tira agora. Os sócios vêm pegar daqui a pouco!

 Sento-me à mesa e começo a processá-los... Dez minutos depois...
 - E então? Os relatórios estão prontos?
 - Ainda não... Você deixou me sentar aqui agora... 
 - Os sócios já estão a caminho! Acelera aí...!
 - Meu computador é lento, tenha paciência...
 - Tá, mas anda logo!

 Minha vontade é esmagar sua cabeça na parede...
 Quando "os sócios" chegam, ele os faz esperar por quase duas horas na recepção. Esse tempo me foi bastante para emitir os malditos relatórios. Nesse momento me pergunto: "Será que esse maldito me apressa só pra me deixar estressado? O que será que ele tem contra mim?". De repente sou interrompido: 
 - Dudu, pega o contrato da empresa.
 - Tá aí do seu lado!...
 - Pega pra mim, preciso dele.
 - É só você esticar o braço.
 - Estou lhe dando uma ordem! Vai cumprir ou não?
 - Você é folgado... 
 - Manda quem pode, obedece quem tem juízo. 
 - Mas você está abusando.
 - Quer perder o emprego? Com quem pensa que está falando?
 - Estou voltando à prefeitura. Me ligaram dizendo que falta essa guia.
 - Quando voltar vamos ter uma conversa. 

 Fui pra rua, dei uma volta, fiquei pensando no meu aniversário. Sim! Hoje é meu aniversário! Hoje é o meu dia... Meu dia? Não me lembro de tê-lo aproveitado... Por que é que o meu dia foi todo do meu chefe? Ainda estou aqui com o emprego ameaçado... Belo presente de aniversário!!! Se ele não soubesse, até entenderia, mas ele sabe e todos no escritório ainda me deram parabéns na frente dele. 

 Então o que será? Talvez esteja fingindo pra eu não perceber que estão preparando uma comemoração surpresa pra mim...? Espero que seja isso mesmo!!

 Resolvo voltar para o escritório, esperando que esteja tudo enfeitado, ou pelo menos o pessoal reunido para cantar parabéns para mim, mas, quando apareço na porta, um silêncio macabro toma conta do ambiente. Dirijo-me à minha mesa e... Olha meu presente! Uma Rescisão de Contrato de Trabalho...
FIM



Este texto foi escrito no dia 11 de Agosto de 2006, há exatamente cinco anos atrás. Seu objetivo principal era a demonstração de uma indignação com a chefia de uma empresa onde trabalhei. Como já faz muito tempo, senti-me na liberdade de compartilhar esta produção com meus caros leitores.
Espero que tenham gostado.