Epopeias de uma nação mentalmente marasmada produzidas sem a censura do horário nobre imposta pela sociedade.

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Fadiga

Cansei de coisas várias, desses canalhas, das coisas falhas,
Cansei de mim, de umas não, de outras sim.
Cansei do meu salário, do pagamento, da falta de rendimento,
De cada momento, sentimento, de pisar em cimento.

Cansei de andar em círculos, entrar em cubículos, de tratar os furúnculos,
Cansei das feridas, das retorcidas, cansei das mordidas.
Cansei dos botes, levar calote, recitações sem mote

Cansei de muita coisa, das pessoas, desse mundo, de tudo imundo
Cansei da minha estante, de fazer certo e ainda assim levar flagrante
Levar a culpa, cansei do seu orgulho, desse barulho, desse ruído.
Cansei de virar a esquina e ser mordido.

Cansei dessa rotina, da minha vida, luta falida,
Um suicida, to sem comida, estagnado, não tem caminho,
Nem só de ida, ou a bebida, cerveja ou vinho,
Cansei de viver sozinho num mundo lotado.

Cansei desse seu jeito, do dito e feito, de ser suspeito, desconfiança.
Cansei do pouco caso e indiferença, não há mudança, é só andança,
E tem protesto, e leva tiro, é prisioneiro, ninguém trabalha, seja político ou carreteiro.

Cansei de ser otário, do meu salário, da impunidade, dessa cidade, não tem nada.
To cansado de levar porrada.
Cansei do medíocre, não estar na média, e desse tédio
Cansei de estar a baixo do médio.
Cansei de me perder, me recolher,
Cansei de estar e de ser.
Cansei do pobre, cansei do falso
Cansei dos sanguessugas no encalço.
Cansei de me dedicar, de me ceder.
Cansei de sacrificar e me foder.

Cansei de tudo, cansei do mundo, de me iludir
E não me importo se vier a repetir.

Já fiquei calvo, eu virei alvo
Cansei de suplicar e não ser salvo.

Cansei de ser forte, driblar a morte
De ser cidadão de pequeno porte.
Cansei do amor, e dessa dor
De ser julgado por ser trabalhador.

Cansei do sono e do cansaço
Eu to no aço, me vê um maço
Cansei de ser feito de palhaço

Cansei dos vícios
Dos malefícios
Se for difícil grite meu nome.
Eu to aqui, eu não sumi, mas decidi.

Vou cortar pela raiz
Vou ser feliz
Bem na frente do seu nariz
Pra você ver e me perder
E se sofrer, nunca se esqueça
Que eu fui sozinho, segui caminho

Eu to lutando, mesmo desanimado
Um dia eu chego e se não chegar,
Que eu siga bem acompanhado.