Epopeias de uma nação mentalmente marasmada produzidas sem a censura do horário nobre imposta pela sociedade.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Ano eleitoral


Ano de eleições, para mim, não passa de uma grande atuação de comédia. Vê-se candidatos "passeando" por bairros em situação crítica, cumprimentando pessoas desabrigadas, que acordam sempre pedindo a Deus forças para sobreviver àquele dia, candidatos que se dizem honestos, só porque não foram pegos pela Lei da Ficha Limpa. E então, todo candidato é "do povo", todos eles se preocupam com cada eleitor, todos são capazes de abraçar mendigos, andarilhos e assalariados por um voto a mais, sorrindo hipocritamente como se convencessem a si mesmos das suas mais falsas virtudes. Não há candidato corrupto aos olhos de si próprios, todos fizeram pela educação, como se não lembrássemos das greves ocorridas nas instituições de cada setor, federal, estadual ou municipal. Todos aplicaram exorbitantes partes dos fundos em saneamento, saúde, desenvolvimento, quando o máximo que vimos foi uma rua asfaltada, um poste trocado e uma pintura na fachada do pronto-socorro do nosso bairro.
Em ano de eleições, aquele seu amigo chincheiro na adolescência hoje é um "grande homem" para lhe representar politicamente... mas ele se esquece que cresceu no mesmo bairro que você, se esquece dos que o viram sendo revistado pela polícia em frente à sua casa, não imagina que você se lembra das companhias que ele andava, que hoje serão seus assessores se for eleito. São esses os "homens do povo" que querem se eleger hoje, aliando-se a mauricinhos debochados que nunca andaram de ônibus pela cidade e que hoje posam orgulhosos dentro de um ônibus novo vazio, como se fosse uma conquista deles para o povo, mas nunca tiveram culhão suficiente para enfrentar o inferno diário do transporte público nos horários de pico. Hoje esbanjam tal conquista, amanhã vão para o trabalho às onze da manhã nos seus carros importados, com ar condicionado e vidros fumê.
Candidatos que param na entrada da favela com um caminhão carregado de tijolos e sacos de cimento para distribuir à população, mas que não descem da carroceria um instante, pois não querem sujar seus ternos importados. Distribuem sorrisos, bons dias e material de construção a desempregados desnutridos, sem dentes nem banho, pois onde mal moram, nem água encanada possuem. Valiosos eleitores, pois não têm a visão questionante dos intelectuais, que já se convenceram de anular seus votos por não terem mais esperanças nesses mascarados em ternos de seda. Importa-lhes somente os néscios, os que aceitam seus sacos de cimento, porque os verão como homens de bem e votarão enganados, como sempre, por acharem que estão colocando em seus lugares aqueles aproveitadores, que lhes representarão como devem.
Povo que elege corrupto não é vítima, é cúmplice, mas povo que não pensa é merecedor de tal martírio. Conhecimento não deve depender de ninguém. Parece ser crueldade de minha parte, mas as pessoas gostam de sofrer, de ter de quem reclamar, são auto-piedosas por natureza, pois assim isentam-se dos males que os cercam. Aceitam o saco de cimento, pois no fundo, era isto o que elas queriam: ser enganadas para, no futuro, porem a culpa no candidato.
Os eleitores acham que se aproveitam dos benefícios que esses candidatos oferecem em troca de um voto, mas não têm capacidade de enxergar que estão sendo usados, vendendo seus votos por uma miséria material e moral, pois no futuro, as máscaras desses candidatos cairão, serão centro das atenções dos jornais, terão sigilos quebrados, serão investigados, acobertados pela imprensa, que os protegerá com intrigas em novelas, filmes idiotas e jornais televisivos com notícias fúteis, que usam de sensacionalismo barato em notícias de assassinos de todo dia para velarem o mar de lama que é o nosso sistema político, que têm a capacidade de acordar memórias quando lhes convém, fazendo o povo se lembrar de merdas como o esquema do Mensalão em ano eleitoral, para que ninguém se importe com os candidatos municipais,  mensalistas em potencial que tentam ingressar na mamata dessa lixeira com garis engravatados.
Povo que se deixa manipular é povo que gosta de sofrer, que não vai às ruas dizer de que tipo de informação gostariam de se alimentar. É povo que compra livro de receitas de pizza ao invés de procurar conhecimento histórico do próprio país, povo que trabalha cinco meses em cada ano apenas para pagar impostos, que paga impostos apenas para o deleite da falta de ética desse país. Povo honesto, que se burla por um tijolo, que se omite por uma dentadura, que se mata por um prato de comida, mas que se vê como nobre porque trabalha incansavelmente, mas é cego ao ser enganado.

Um comentário:

  1. Falta nos políticos duas formações básicas. A primeira refere-se a uma formação moral e, a segunda, uma formação da verdadeira Arte Política, tal como Aristóteles "prescreveu" em seu diálogo. Enfim, cabe também a população à busca pela compreensão destes aspectos e a negativação destes políticos movidos pelo mal caráter!!!

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